Farewell
Carlos Drummond de AndradeDesde o primeiro poema do volume, o majestoso e tão drummondiano “Unidade” (“As plantas sofrem como nós sofremos./ Por que não sofreriam,/ se esta é a chave da unidade do mundo?”), até o último, “Zona de Belo Horizonte, anos 20” (“Serão sempre assim as mulheres perdidas,/ e perdidas porque nunca se acham/ mesmo no véu de cocaína e éter?”), conclui-se de forma exemplar - e quase didática, de tão cristalina - o arco da poesia do autor itabirano. A melancolia de mãos dadas com o humor gauche, algo canhestro. A suave metafísica e a ironia delicada. Minas e o vasto mundo. Depuração de uma carreira exemplar e rara em nossas letras, Farewell reafirma, com a sensibilidade característica de seu autor, o percurso formal e ético de Carlos Drummond de Andrade. É um livro que, muito a propósito, evoca os andamentos mais tranquilos de Boitempo: o desfile sem alarde da memória e da vida familiar brasileira, a adoração pela poesia de Camões e de Fernando Pessoa, o amor por Greta Garbo e pela vida plena. Encantamentos muito particulares que se tornam universais nas mãos do poeta. Ou pelo menos se mostram intensamente brasileiros. Daí a permanência da obra de Drummond.
“Já se observou com razão que o livro póstumo do poeta itabirano repõe temas e motivos que notabilizaram sua lírica. Poderíamos acrescentar, em relação a isso, que o livro explora a diversidade de registros que caracterizaram sua poesia, da notação irônica, o sense of humour, à inflexão sublimizante…”, escreve o crítico Vagner Camilo no esclarecedor posfácio à edição. Um livro essencial, portanto.